Flexibilidade, criatividade, bem-estar, diversidade e automação são as palavras que melhor resumem o futuro do trabalho. Esses termos, na verdade, são bastante familiares para nós, isso porque o mercado já deu seus passos de como irá operar no futuro não tão distante e, com isso, empresas e profissionais já se preparam para absorver as mudanças previstas. Para você não perder de vista as tendências do futuro do trabalho, preparamos este artigo com os principais pontos que você não pode deixar de acompanhar, confira:
- Futuro do trabalho e tecnologia
- Automação de processos
- Inteligência artificial
- Soft e hard skills para o futuro do trabalho
- Futuro do trabalho: como crescer profissionalmente?
- Futuro do trabalho tem diversidade
- O remoto é o escritório do futuro?
Futuro do trabalho e tecnologia
Para pensar em algo coletivo como o futuro do trabalho é preciso olhar para o desenvolvimento da tecnologia. Afinal, a expansão das atividades produtivas leva em conta três fatores centrais: o ser humano, a natureza e a tecnologia. Algumas teorias colocam esses elementos em conflito, indicando que uma é mais relevante do que a outra – geralmente a primeira e a terceira. Mas no final da década de 70, o filósofo tcheco, radicado no Brasil, Vilém Flusser (1920 – 1991) propôs uma relação dialética entre esses fatores, na qual o humano só vai até onde a tecnologia permite avançar, mas a tecnologia só vai até onde o humano avança. Essa conexão desnuda que o potencial da transformação digital só é usufruído de maneira eficiente quando a pessoa que utiliza as ferramentas digitais sabe como absorver toda a sua capacidade.
Quase meio século depois a expectativa para o futuro do trabalho deixa de contrapor e sim passa a pensar como os fatores humanos e tecnológicos podem operar em sinergia. É isso o que indica o relatório sobre gestão estratégica de pessoas “A empresa social em um mundo transformado: liderando a mudança da sobrevivência para a prosperidade”, publicado pela Deloitte no início de 2021. A consultoria apresenta que no futuro do trabalho as ferramentas digitais passam cada vez mais a serem compreendidas como membros da equipe e que são capazes de deixar o processo de trabalho mais eficiente.
No início do ano, a Harvard Business Review publicou um artigo, escrito por Daniel Markovitz, professor de Direito na Universidade de Yale, com o título bastante direto que vai na mesma direção da análise da Deloitte sobre o futuro do trabalho: “Productivity is about your systems, not your people”. Esse puxão de orelha se refere que as empresas sempre estão ávidas por encontrar maneiras de deixar seus colaboradores mais produtivos, mas a eficiência das equipes não é elástica como a dos softwares. Com isso, no futuro do trabalho, há uma mudança de foco em que as organizações buscam ferramentas capazes de tornar suas rotinas mais ágeis e profissionais competentes para tirar todo o proveito dessas tecnologias.
Mas quais são as ferramentas digitais que vão estar cada vez mais presentes no futuro do trabalho? As áreas que vêm recebendo altos investimentos são a de automação de processos e de inteligência artificial (IA). Para entender como elas funcionam na prática, acompanhe os tópicos a seguir.
Automação de processos
A automação de processos surgiu ainda na terceira revolução industrial, quando as atividades manuais passaram a ser automatizadas. Contudo, de acordo com uma estimativa da McKinsey a automação das atividades está longe de ser concluída. A consultoria calcula que 50% das atividades executadas atualmente podem ser automatizadas com tecnologias já existentes e efetivas. Entretanto, 90% dessas tarefas ainda são realizadas de maneira manual.
Mas esse cenário deve mudar até 2030, segundo o relatório “O futuro do mercado de trabalho: impacto em empregos, habilidades e salários”, lançado em 2017. Com isso, 375 milhões de trabalhadores em todo o mundo e mais de 30% do total da força de trabalho nos Estados Unidos precisarão mudar de emprego ou atualizar suas habilidades de forma significativa. Essa estimativa do futuro do trabalho é a que os profissionais mais temem e com razão, já que o enxugamento de funções está atrelado à recessão econômica e crises sociopolíticas em várias partes do mundo.
Esse banho de água fria da McKinsey vem acompanhado de análises mais animadoras. De acordo com o estudo publicado, milhões de outros postos de trabalho podem ser criados por conta das mudanças socioeconômicas geradas pelas tecnologias. A consultoria ressalta que a sensação de que mais se perde empregos do que se ganha também se deve ao fato que os postos que deixam de existir no futuro do trabalho são mais visíveis do que aqueles indiretamente criados pela transformação digital. Ainda segundo análise da McKinsey as profissões que mais têm a se beneficiar com a automação no futuro do trabalho são:
- Serviços da área da saúde;
- Engenheiros, cientistas, contadores e analistas;
- Especialistas em tecnologia da informação;
- Educadores de economias emergentes com uma população jovem;
- Profissionais criativos das áreas de arte, diversão e entretenimento;
- Construtores e profissões afins que envolve investimentos em infraestrutura e imóveis;
- Trabalhadores de ambientes imprevisíveis, como assistentes de saúde em domicílio e jardineiros.
Inteligência artificial
Se a automação já é conhecida no mundo do trabalho, a inteligência artificial ainda dá seus primeiros passos. Isso porque a automação traz resultados rápidos e palpáveis, já os investimentos em IA por décadas foram tiros no escuro feitos por empresas com capital suficiente para arriscar em novas propostas. Entretanto, os investimentos nesta área já chegam na casa dos bilhões de dólares e se torna uma realidade cada vez mais possível para pequenas e médias empresas (PMEs).
E para o futuro do trabalho, o que isso significa? O estudo “The most perfect union: Unlocking the next wave of growth by unifying creativity and analytics”, realizado com 200 CMOs (Chief Marketing Officer) e executivos de marketing sênior pela consultoria McKinsey, dá algumas pistas.
- 1. Criatividade e inteligência de dados são tratadas como habilidades iguais;
- 2. As atividades analíticas estão se tornando mais engenhosas;
- 3. As empresas estão usando cada vez mais o Big Data;
- 4. Os talentos buscados pelas empresas são pessoas criativas e que não tenham medo dos números.
Para se encaixar em um mundo do trabalho cada vez mais organizado dessa maneira, é preciso que as pessoas foquem em desenvolver habilidades de análise de dados, dominem ferramentas de coleta de informações e busquem ser prolíferas sobre seus conhecimentos.
Soft e hard skills para o futuro do trabalho
A reportagem do jornal GaúchaZH resume em uma manchete a complexidade das soft e hard skills ao enunciar que “O Futuro não cabe num diploma”. Isso significa que cada vez menos a sua área de formação vai definir o setor específico na qual você vai trabalhar. O que existe é o aprimoramento do conhecimento adquirido na graduação por competências transdisciplinares, que atravessam todas as carreiras. As habilidades necessárias para os empregos do futuro vão além do que uma única área consegue dar conta.
Para compreender quais serão as soft e hard skills essenciais para o futuro do trabalho, a empresa de desenvolvimento profissional e pessoal Fingerprint for Success (F4S) compilou as principais exigências do mercado no artigo “Hard skills vs. soft skills: Which matter more in the future of work?”.
Hard skills
- Ser bilíngue
- Capacidade de gestão de dados
- Conhecimento em softwares do Adobe
- Conhecimento em SEO/SEM marketing
- Capacidade de análise de estatísticas
- Conhecimento em mineração de dados
- Conhecimento em design da interface do usuário
- Conhecimento em gestão de campanhas digitais
- Conhecimento em armazenamento e gestão de sistemas
- Conhecimento em linguagem de programação (Java, Pynthon)
Não precisa ficar assustado pensando que é preciso desenvolver todas essas competências, você vai se dedicar profundamente em algumas e ter conhecimentos básicos em outras, mas a lista acima te dá um norte sobre onde você deve pôr suas energias no futuro do trabalho.
Já as soft skills são aquelas habilidades que o ajudarão a desenvolver melhor suas capacidades técnicas em um mundo tão hard.
Soft skills
- Integridade
- Confiabilidade
- Comunicação clara
- Ser mente aberta
- Trabalhar bem em equipe
- Ser criativo
- Agilidade em solucionar problemas
- Ter pensamento crítico
- Adaptabilidade
- Organização
- Disposição para aprender
- Empatia
- Resiliência
Além do desenvolvimento dessas competências, a consultoria Deloitte, no estudo citado acima, apresenta que as empresas têm feito um movimento de reskill, que é adaptar as habilidades dos atuais colaboradores para as novas necessidades que o setor apresenta. Justamente por isso se manter flexível é uma das capacidades mais essenciais em um mundo cheio de mudanças.
Futuro do trabalho: como crescer profissionalmente?
As pesquisas que tratam do mercado de trabalho apontam que é cada vez mais comum as carreiras profissionais serem construídas aos retalhos. Isso significa que a ideia de trabalhar para uma empresa por décadas até a aposentadoria não faz mais parte da realidade profissional. Essa fragmentação se deve tanto ao dinamismo das profissões quanto pelas próprias mudanças nas relações de trabalho.
Por um lado, como vimos acima, as habilidades requisitadas pelo mercado são voláteis e os profissionais precisam fazer esse movimento constante de requalificação para manterem a conexão entre suas competências e as necessidades da empresa. Por outro, as pessoas se sentem mais encorajadas a buscar empregos que dialoguem com os valores. Um indicativo disso é o relatório “The DisCO Elements: Groove is in the heart”, produzido pelo projeto DisCO (Distributed Cooperativism), que apresenta que é preciso reimaginar o fluxo de valor no mercado de trabalho, porque as pessoas buscam nas atividades laborais realização profissional.
A sinergia entre o sentimento de pertencimento nas atividades profissionais é uma prática que ficará cada vez mais evidente no futuro do trabalho. Por outro lado, o relatório indica que mesmo no caso de cooperativas, que desenvolvem sua atuação em cima de causas sociais e por isso possibilitam conexões profundas entre valores pessoais e trabalho, os indicadores de turnover dessas iniciativas costumam ser altos. Em parte porque os colaboradores recebem propostas com melhores remunerações e também por estarem inclinados a terem carreiras mais flexíveis. Isso significa que, diferente da geração de baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964), os mais jovens não estão necessariamente em busca de estabilidade. Assim, os trabalhadores transitam entre as empresas conforme elas fazem sentido para as suas aspirações profissionais e pessoais.
Além do protagonismo dos valores e a menor linearidade das carreiras, o futuro do trabalho nos indica que os grandes centros e empresas estão perdendo os seus status de reduto de ascensão profissional. Isso porque as economias locais estão se tornando emergentes na criação de pequenas e médias empresas que não ficam às sombras das gigantes e ainda estão localizadas em cidades com maior qualidade de vida.
Em outras palavras, o eixo Rio-São Paulo, por exemplo, abarca as sedes das maiores empresas do Brasil, permitindo que nesses núcleos fiquem as áreas estratégicas e nas matrizes estejam dispostas a operação braçal dessas organizações. Então, ascender na profissão até há alguns anos era sinônimo de viver em um desses dois Estados para angariar um bom posto de trabalho. Agora, com mais startups espalhadas pelo Brasil desenvolvendo serviços estratégicos com condições de trabalho que não deixam a desejar, as pessoas conseguem desempenhar funções desafiadoras e que pesam para o currículo sem necessariamente viver nesses centros.
A consultoria McKinsey apresenta na pesquisa “The future of work in America: People and places, today and tomorrow” justamente que a economia local norte-americana no futuro do trabalho produzirá mais postos de trabalho do que os grandes centros e principalmente por meio de empresas focadas em tecnologia e negócios. Outros resultados do estudo indicam que essas cidades “têm rendas mais altas, crescimento mais rápido do emprego desde a Grande Recessão, alta migração líquida e forças de trabalho mais jovens e educadas do que o resto do país”.
No entanto, uma dificuldade enfrentada pela economia local é que há maior desigualdade de renda, já que a mão de obra especializada é a que mais encontra oportunidades, enquanto pessoas de nível médio e fundamental estão vendo postos de trabalho condizentes com as suas formações educacionais se esvairem.
Futuro do trabalho tem diversidade
Um ponto que não escapa da análise sobre o futuro do trabalho é a emergência de programas que fortalecem a diversidade nas empresas. Muito desse incentivo vem dos critérios do ESG (abreviação de Environmental, Social and Governance). Esses fatores ajudam os investidores da bolsa de valores a tomarem melhores decisões, investindo em organizações que adotam os critérios e escapam de escândalos de corrupção, ambientais e de ser reativas na contratação de pessoas negras, com necessidades especiais, LGBT+ e mulheres. No artigo “Ten Trends Shaping U.S. Manufacturing in the Next Twelve Months”, sobre as dez principais tendências do futuro do trabalho, David Beckoff e Erika Ruiz elencam investimentos no ESG como a quarta mais relevante.
No entanto, para ser efetivo na questão de diversidade, a pesquisa da McKinsey “Women in the Workplace 2020” indica que as empresas precisam buscar uma abordagem interseccional, o que significa analisar o perfil das pessoas contratadas de modo multidimensional para garantir que mulheres negras, por exemplo, estejam sendo integradas às equipes.
Isso serve para que as categorias de identidade não andem isoladas, o que gera a invisibilidade de grupos que estão presentes em duas ou mais esferas, como mulheres negras, mas não recebem programas próprios e por isso acabam caindo em uma lacuna. Além de garantir a contratação, a consultoria afirma que as empresas precisam se manter preocupadas em garantir a felicidade das pessoas, e uma das formas é escutando os seus desafios dos colaboradores dentro da organização. Neste ponto, entra a presença do líder, que passa a ter um papel ainda mais fundamental em criar espaços de escuta para ouvir e tomar as melhores decisões em torno dos assuntos trazidos pelos colaboradores.
Mas esse trabalho dos gestores não é solitário, a tendência do futuro do trabalho é que cada vez mais as empresas oportunizem treinamentos e cursos focados em uma gestão mais humanizada para criar conexões fortes com a equipe. Para criar essa conexão, as instituições também incentivam mais mulheres e pessoas negras em cargos de liderança, para servir de representatividade para os demais colaboradores que pretendem ascender a essas posições.
O remoto é o escritório do futuro?
Uma pesquisa do software de recrutamento e seleção Kenoby, com 1.300 profissionais de diversos cargos – como diretores, gerentes, coordenadores e assistentes – aponta que 90% dos entrevistados acreditam que o home office é o futuro do trabalho. Essa quase unanimidade se deve ao fato que trabalhar de casa funciona surpreendentemente bem para as profissões que conseguem fazer essa transição. Segundo estudo, realizado por nós do Runrun.it, 52% das pessoas disseram que não sentem dificuldade de se concentrar quando trabalham em casa.
As vantagens não param por aí, pesquisas indicam que colaboradores estão se sentindo mais conectados com suas famílias, estão adotando melhores hábitos de vida e já planejam mudanças estruturais por conta das vantagens do trabalho remoto, como mudar para uma cidade afastada, ou mesmo ser nômade digital, profissional que viaja enquanto trabalha.
Essa adesão positiva ao home office não apenas colocou em xeque a necessidade de escritórios físicos, mas exige que as empresas repensem o trabalho entre quatro paredes. De acordo como a reportagem publicada pela Vox, “10 ways office work will never be the same”, os escritórios não deixam de existir, mas servirão para a equipe desenvolver trabalhos mais colaborativos, um dos grandes desafios do home office.
Isso também indica que os escritórios serão cada vez menores, já que uma empresa de 60 funcionários não precisará comportar todos de uma única vez no mesmo espaço. Nesse sentido, os coworkings ganham protagonismo e até novas estruturas. Isso porque, até então, quem operava nesses locais eram empresas constituídas por poucas pessoas ou profissionais independentes. Com instituições robustas aderindo ao trabalho remoto permanente e entregando seus escritórios, os coworkings podem alugar salas, ao invés de apenas mesas, para que o trabalho colaborativo não deixe de acontecer.
Além do ambiente, outro ponto de mudança para o futuro do trabalho é a adoção de softwares que possibilitem a comunicação e a colaboração entre a equipe mesmo à distância, mas sem prejudicarem a segurança de dados da sua empresa. De acordo com um estudo realizado pelo Capterra (uma plataforma de busca e comparação de softwares) com 409 funcionários de pequenas e médias empresas, de diversos setores de todo o país, 63% dos gerentes responsáveis pela compra de softwares das PMEs consultadas adotaram novas ferramentas como resposta às mudanças do trabalho à distância. Já a consultoria da Deloitte, no estudo mencionado anteriormente, vai mais fundo e analisa que as novas tecnologias que fazem parte das empresas não só servem para preencher as pontas soltas do home office, mas para possibilitar bem-estar para as equipes.
Isso se deve ao fato de que com a flexibilidade, muitas pessoas acabam encaixando o trabalho em todos os momentos da vida, não conseguindo mais estabelecer barreiras entre lazer e profissão. As ferramentas, como bloqueio do e-mail fora do expediente, surgem justamente para evitar esse tipo de prática de sobrecarga de trabalho. Para o futuro do trabalho, portanto, os softwares serão projetados para cada vez mais mesclar produtividade e bem-estar.
RunRun.it