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Estágio aos 40 anos de idade mostra mudanças no mercado

Estágio aos 40 anos de idade mostra mudanças no mercado

O estudante Antonio Luiz Lopes da Silva tem uma rotina regrada. Divide seu tempo entre as aulas do curso de ciências contábeis, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, e o trabalho de estagiário na área de contabilidade do Tribunal de Justiça.

Aos 42 anos, ele engrossa um movimento que ganha força cada vez maior no mercado brasileiro – o aumento do número de estagiários com mais de 40 anos de idade nas empresas, seja trilhando os caminhos da primeira faculdade, caso de Antonio Luiz, seja numa mudança de profissão depois que o mercado achatou as oportunidades da primeira escolha. “Eu pretendo seguir carreira nessa área e buscar novas qualificações”, ressalta ele, vislumbrando um futuro de trabalho ativo nos próximos anos.

Dados do IBGE ajudam a ressaltar a importância da escolha “tardia”, já que a expectativa de vida dos brasileiros sobe progressivamente. Segundo o último levantamento feito pela entidade, a expectativa média de vida do brasileiro é de 76 anos, o que leva muita gente a traçar um caminho profissional mais longo do que o previsto, com a busca de uma nova carreira.

Os motivos que levam a essa busca por novos rumos profissionais são diversos. Vão da busca por um novo propósito de vida à dificuldade de se recolocar no mercado no mesmo patamar, além das incertezas quanto ao futuro da Previdência no Brasil.

Felipe Calbucci, diretor de vendas da plataforma Indeed, especializada em recolocação profissional, ressalta que o setor de TI – em especial o segmento de UX (User Experience) – também está recebendo um grande de volume de estagiários experientes. “Há uma grande falta de talentos nessa área, o que abre espaço para profissionais que estejam retomando os estudos e tenham outras experiências que podem agregar a esse trabalho.”

Contratação

As empresas brasileiras vivem um momento de adaptação a essa nova realidade, deixando de lado anos de preconceito em relação à idade dos colaboradores – o que é chamado de etarismo. Porém, o caminho ainda é longo. “Apesar do entendimento das companhias estar mais claro quanto aos benefícios de contratar estagiários mais velhos, a área de RH ainda não está investindo em práticas para valorizar esses profissionais”, destaca Vanessa Cepellos, professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da FGV em São Paulo.

De acordo com Henrique Calandra, fundador da Walljobs, plataforma focada em recolocação profissional, o Brasil é conhecido por contar com uma forte legislação voltada para o estágio. E as empresas são beneficiadas.

Para Mórris Litzak, CEO da Maturijobs, especializada em auxiliar no retorno ao profissionais acima de 50 anos ao universo corporativo, o mercado brasileiro tem muito a aprender nesse sentido com as startups. “Essas empresas estão abrindo caminho para a presença cada vez maior de estagiários com grande experiência, pois os jovens detêm o conhecimento técnico e precisam de pessoas mais preparadas para auxiliar na gestão.”

O filme O Senhor Estagiário, estrelado por Robert De Niro e Anne Hathaway, reforça a premissa de Litzak, ao trazer um senhor de mais de 65 anos que entra como estagiário em uma empresa de moda e acaba ajudando sua presidente a se manter no comando.

Time com jovens e ‘maduros’ ganha com diversidade

Criar times intergeracionais – com jovens e profissionais mais preparados convivendo no mesmo ambiente – proporciona um trabalho integrado e troca de conhecimentos, na visão de Vanessa Cepellos, professora da FGV-SP.

“Os estagiários mais maduros têm a oportunidade de corrigir a distorção da visão do mercado, mostrando alta produtividade, capacidade de gerar informações e se adaptar às novas tecnologias.”

Germana de Fátima Ferreira Santos, de 45 anos, atualmente estuda direito na Uniesp e diz não se sentir “velha”. “Me dou muito bem com meus colegas de classe, pois acredito que tenho muito a aprender com eles”, conta ela, que atualmente faz estágio na Prefeitura de São Paulo na área de digitalização de petições. “Meu objetivo é ser delegada”.

Edigleison Ximenes, de 40 anos, também estuda direito (sua primeira faculdade), faz estágio na Defensoria Pública e quer seguir carreira solo. “Adoro a área penal, mas quero ter meu próprio escritório para garantir meu futuro.”

Maria Carmela Barone, de 60 anos e com visão subnormal – deficiência que prejudica a capacidade de enxergar –, matriculou-se no curso de serviço social do Centro Universitário Assunção para se manter ativa no mercado até alcançar a velhice. “Pretendo me aperfeiçoar cada vez mais nesse setor para ajudar as pessoas, algo que eu sempre fiz, porém não de forma profissional.”

Fonte: Estadão

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