Inspirada em modelos consolidados na Austrália, Inglaterra e Estados Unidos, a escola de programação online Trybe traz uma proposta diferente para reduzir o déficit de profissionais de tecnologia no País: estude agora e pague só quando conseguir emprego. É como um financiamento estudantil, em que o estudante paga quando sai da faculdade. Nesse caso, só se conseguir uma colocação na área.

Até agora 3.700 alunos estudaram – ou ainda estudam – na empresa, criada em agosto de 2019 por um grupo de amigos. Só entre 2020 e 2021, pior período da crise sanitária, a escola formou 470 profissionais. Desse total, 94% escolheram fazer o pagamento do curso pelo Modelo de Sucesso Compartilhado (MSC), ou seja, quitar o valor total apenas quando conseguirem um emprego. Quem quiser parcelar ou pagar o curso à vista também pode.

O custo varia de R$ 18 mil a R$ 40 mil dependendo da forma de pagamento – o valor maior é para quem opta pelo MSC. “Decidimos criar um curso com educação de alta qualidade que muitas vezes não cabe no bolso do estudante brasileiro”, diz o cofundador e CEO da Trybe, Matheus Goyas. Segundo ele, nesse modelo, o aluno só paga se tiver trabalho e renda depois que finalizar os estudos, até o limite de 5 anos. Após esse período, a escola não cobra mais.

O curso tem carga horária de 6 horas por dia durante 12 meses. Nesse período, os alunos aprendem desenvolvimento de software (front end, back end e princípios da ciências da computação e algorítimos), além de habilidade socioemocional, as chamadas soft skills. Goyas explica que o público que procura a Trybe é diverso: 35% dos estudantes têm apenas ensino médio; 30%, graduação incompleta; 30%, graduação completa; e 5%, pós-graduação, mestrado e doutorado.

Matheus Goyas, cofundador da Trybe, escola de tecnologia Foto: Phillipe Guimarães © Fornecido por Estadão Matheus Goyas, cofundador da Trybe, escola de tecnologia Foto: Phillipe Guimarães

Esses alunos estão em busca de três caminhos diferentes. O primeiro deles, diz Goyas, é a entrada na área de tecnologia. Depois surgem aqueles que estão estudando, mas descobriram que não gostam do que escolheram. E, por último, estão os que querem fazer uma transição de carreira. “Alguns estavam em profissões que até ganhavam bem, mas não querem mais continuar na área.”

O executivo, que criou a segunda empresa e tem apenas 32 anos (a primeira foi vendida em 2017 para a Somos Educação), diz que boa parte dos estudantes que passou pela escola está empregada. De acordo com levantamento feito por uma empresa de auditoria, 92% daqueles que estudaram na escola entre 2020 e 2021 já trabalham na área de tecnologia.

“O destaque é que 54% deles tiveram aumento da renda durante os seis primeiros meses de carreira.” A mediana de renda mensal dos optantes pelo MSC trabalhando com tecnologia é de R$ 4,5 mil. Goyas explica que o porcentual elevado de estudantes empregados se deve ao fato de a escola ter ligação com mais de 500 empresas que precisam de mão de obra na área.

“São companhias de vários portes e setores, como XP, Mercado Livre, Meliuz e Localiza.” Quase 70% dos que conseguiram emprego foi por meio das parcerias. “Aprender a aprender é um dos pontos mais importantes do nosso currículo, segundo nossos próprios estudantes.”

Além de Matheus Goyas, a escola de tecnologia tem como sócios Claudio Lensing, João Daniel Duarte, Marcos Moura e Rafael Torres. Quase todos foram amigos de escola e se encontraram tempos mais tarde para criar a AppProva, uma ferramenta gratuita para ajudar estudantes na preparação de exames como Enem e OAB. A empresa foi vendida para a Somos Educação em 2017.

A Trybe veio logo depois dessa empreitada. Em 2018, os sócios deixaram a AppProva e um ano depois fundaram a escola de tecnologia, de olho num mercado com déficit de mais de 100 mil trabalhadores. A edtech, como são chamadas essas startups no mercado, já recebeu US$ 50 milhões em três rodadas de captação (seed, Série A e Série B). Entre os investidores que colocaram dinheiro na empresa estão profissionais renomados como José Galló, Nizan Guanaes, Armínio Fraga e Hans Tung, além de grandes fundos de venture capital.

Estadão