Empresas precisam estabelecer regras claras para o modelo sob o risco de acabar favorecendo alguns profissionais.
O modelo híbrido pode criar o “viés de proximidade”, quando lideranças favorecem profissionais próximos fisicamente
Com a instituição o trabalho híbrido virando realidade em boa parte das empresas, passar mais tempo presencialmente com o seu chefe pode ser o diferencial necessário para conseguir uma promoção ou fazer com que a carreira deslanche. O Slack fez uma pesquisa com mais de 10 mil trabalhadores e identificou que a proximidade física tende a criar vieses nos gestores, que acabam favorecendo quem está por perto e visível. O chamado viés de proximidade pode levar à desigualdade no local de trabalho, aumentando a desvantagem de grupos já marginalizados. “Quando a ida ao escritório se torna um critério de desempenho, homens solteiros, por exemplo, podem acabar se destacando de mulheres com filhos, que precisam dedicar mais tempo ao trabalho doméstico e acabam optando por trabalhar de casa”, diz a especialista em carreira e modelos flexíveis de trabalho, Sylvia Hartmann.
Uma política de trabalho híbrido bem estruturada é a forma de evitar que esse e outros problemas, como dificuldades de comunicação, surjam com a adoção do modelo. Uma das empresas que recentemente passou por esse processo de estruturação foi a Alphaville Arquitetura, empresa de construção civil de São Paulo. A primeira medida que eles adotaram foi buscar a opinião dos funcionários para entender suas preferências e expectativas quanto o modelo. ” Conseguimos entender qual era o modelo de preferência e como as pessoas estavam se sentindo”, diz Henrique Matsuo, superintendente de gente e gestão da empresa.
O Banco Neon é outro negócio que começou a explorar as oportunidades do trabalho híbrido. No começo desse mês, anunciou que estaria adotando o modelo permanentemente. O objetivo é dar mais flexibilidade para os trabalhadores ao mesmo tempo que fomenta a cultura corporativa da empresa. “Por meio de ações presenciais e remotas, de rotina ágil e gestão, de alinhamento e engajamento dos times, buscamos fortalecer a cultura da Neon aproximando nossos colaboradores”, Juliana Yamada, sócia e vice-presidente de pessoas, dados, estratégia e agilidade do Neon.
Como criar uma política de trabalho híbrido?
O modelo adotado pela Alphaville permite que os dias de trabalho presencial sejam acordados pelos gestores e equipes. Assim, cada líder pode olhar para as prioridades do seu departamento e escolher a opção que melhor se encaixa na sua realidade. A única obrigatoriedade é que sejam três dias de trabalho no escritório por semana. Esse modelo , onde os dias da semana em que toda a equipe deve comparecer presencialmente são pré-determinados pela empresa, é recomendado por Slyvia Hartmann. A estratégia evita que alguns colaboradores tenham mais vivência de escritório do que outros e ajuda a concentrar em datas específicas tarefas que requerem a presença de todos da equipe, como reuniões de departamento e estratégia.
Também é necessário estabelecer um objetivo claro para a ida para os escritórios. Eles podem ir desde realizar reuniões até a integração entre as equipes. “O ambiente do escritório é importante para fomentar relações entre as equipes e gerar senso de pertencimento”, diz Hartmann. Uma das empresas que resolveu apostar na estratégia para difundir a cultura da empresa foi o Banco Neon. No começo de fevereiro, a empresa anunciou que iria adotar um modelo de trabalho híbrido permanente entre seus funcionários. ““Nosso objetivo com a adoção do modelo é que os colaboradores se sintam próximos, inseridos e pertencentes à empresa”, diz Juliana Yamada, sócia e vice-presidente de pessoas, dados, estratégia e agilidade da Neon.
Estabelecer um acordo comum: os dias de presença no escritório devem valer para todos, inclusive para equipes onde alguns dos profissionais estão alocados em estados diferentes. “Nesses casos, a recomendação é estabelecer reuniões periódicas, como uma vez por mês, onde todos se encontram no escritório.”
Usar a tecnologia no trabalho híbrido: investir em equipamentos de captação de áudio e vídeo para as salas de conferência pode ser importante para muitas equipes, permitindo a realização de reuniões entre profissionais que estão no escritório e aqueles que em casa;
Criar métricas de desempenho: é preciso garantir que tanto o desempenho apresentado no escritório, quanto a performance no home office possam ser avaliados pelos gestores. Avaliações de desempenho baseadas em resultados são uma forma de fazer isso, eliminando os vieses do ambiente. Um exemplo de técnica que pode ajudar nesse processo é a adotada pelo Neon. Junto com o novo formato, a fintech implementou uma política de feedbacks contínuos, de forma que gestores e profissionais consigam acompanhar juntos o desenvolvimento profissional.
FORBES