Para muitos universitários, a procura por um estágio é motivo de tensão. Ao fim do curso, existe uma pressão para todos estejam estagiando e, dessa forma, saiam da graduação já efetivados.
Nos primeiros meses do último ano do curso de administração, Amanda Batistuci, 23 anos, decidiu largar o estágio em que estava havia oito meses, por estar insatisfeita com a área. “Meus amigos me chamaram de louca, mas eu tinha certeza de que não queria continuar o que estava fazendo”, afirma ela, que é aluna da FEI.
A procura por uma nova oportunidade durou três meses. Faltando menos de um ano para a formatura, Amanda não conseguia nem ser chamada para entrevistas. A solução foi atrasar em um semestre o fim do curso.
“As empresas não querem alguém que já está quase concluindo. Deixei uma matéria para o semestre que vem, para ter a chance de ser efetivada”, conta ela, que conseguiu um novo estágio em julho. Agora está feliz com o que faz e com esperança de, em julho do ano que vem, conseguir uma vaga definitiva.
Talita Rosolen, professora da área de comportamento organizacional e gestão de pessoas da FEI, reconhece que existe uma forte pressão para que os universitários estejam em um estágio no final do curso. “De fato é mais fácil para eles conseguirem um emprego onde estagiaram durante a faculdade. Eles não querem ficar num limbo, então vão procurando onde têm chances de serem efetivados”, diz.
Embora não haja uma regra geral, a professora sugere que o estudante comece a procurar estágio a partir do final do segundo ano de curso. “De cara, o importante é se adequar ao ambiente acadêmico, procurar se engajar em atividades universitárias, como empresas júnior, entidades estudantis, grupos de pesquisa.”
Mas, depois de cumprida essa etapa, o estágio traz ganhos em várias esferas, desde a remuneração até um melhor desempenho na própria faculdade. “As matérias fazem mais sentido. Também é um jeito de testar o que o aluno quer profissionalmente”, afirma.
Apesar de muitos sentirem essa pressão por um estágio, há estudantes que conseguem emprego sem nunca terem passado por um. Aluna de engenharia da computação do Insper, Manoela Campos, 35, decidiu não procurar estágio por motivos pessoais. Com dois filhos pequenos, queria ter algum tempo para ficar com a família. No entanto, no último ano do curso, quando a carga horária da faculdade foi reduzida, conseguiu vaga já efetiva como assistente de programação.
“Sinto que o estágio fez alguma falta, mas eu consegui entrar na empresa porque minha dedicação à faculdade era muito forte: tinha boas notas, as pessoas me conheciam. Entrei com indicação de colega”, conta Manoela.
No Insper, os cursos são em período integral até o penúltimo ano, permitindo que os alunos façam estágios apenas nas férias ou no ano de formatura. Segundo o diretor de graduação do Insper, Guilherme Martins, o estágio desde o início do curso pode ser ruim para a formação.
“Os estudantes aprendem com a prática. Mas a instituição de ensino superior não pode delegar para uma empresa essa parte do aprendizado. Muitas vezes o estagiário acaba sendo mão de obra barata”, afirma.
A proposta do Insper é levar atividades práticas para dentro do currículo regular há até uma espécie de estágio supervisionado durante um semestre. Alunos bolsistas, além de não pagarem a mensalidade, recebem uma ajuda de custo para não precisarem procurar renda ao longo da faculdade.
No Instituto Singularidades, com cursos de formação de professores, o estágio obrigatório começa já no primeiro semestre de aulas. “Tradicionalmente, o estágio sempre acontecia na segunda metade do curso. A nossa proposta inverte a lógica, porque temos o entendimento que ter a prática junto com a teoria faz com que o aluno tenha uma visão diferente do que está aprendendo na classe”, afirma Cristina Barelli, coordenadora de pedagogia.
Para colocar os universitários para estagiar tão cedo de forma proveitosa, há um convênio com a rede de educação municipal de São Paulo para receber os futuros professores. O docente que recebe um estagiário passa por uma formação prévia. “O estágio aproxima o ensino superior do mundo real do trabalho. O estágio não pode ser apartado do currículo”, afirma.
Depois de passar pelo estágio obrigatório, o estudante de pedagogia Marcelo Manoel, 32, já está no seu segundo estágio opcional. Ele acredita que a prática durante a faculdade está deixando-o mais preparado. “Para estar em sala de aula, tem que se calejar. Não temos respostas prontas, mil coisas podem acontecer, mas as experiências do estágio nos ajudam a lidar melhor com as situações”, diz.
Ainda que veja vantagens só pela experiência, ele espera que o estágio atual lhe abra as portas para ser contratado como professor. “Eu também gostava da escola anterior, mas resolvi mudar para a atual porque vejo que aqui há mais chances de ficar.”
Para quem está procurando estágio, os professores aconselham incluir no currículo as experiências universitárias, esportivas, de voluntariado ou outras atividades que, embora não sejam profissionais, desenvolvam habilidades procuradas pelas empresas, como comunicação, trabalho em equipe, flexibilidade.
Os especialistas também recomendam ter um foco na busca pelo estágio, conhecer com o que se deseja trabalhar e onde estão as oportunidades nessa área. “O primeiro passo é o aluno saber o que vai procurar. Depois, levantar quais opções ele tem, de forma realista”, diz Guilherme Martins, do Insper.
Sabendo o que quer, chega a hora de fazer contatos, seja participando de eventos da área, seja mandando emails para se apresentar, sugere o professor. “Se der certo e o estudante entrar numa fase de entrevistas, ele tem que aprofundar o conhecimento sobre a empresa”, completa.
A professora Talita Rosolen diz ainda que é preciso ter em mente que tudo é aprendizado, até mesmo os fracassos. “Provavelmente não vai ser na primeira entrevista que o aluno vai passar. Mas ele aprende como é, fica menos nervoso na próxima.”
Folha de São Paulo