Não é de se admirar que a síndrome do impostor — a sensação de que suas conquistas profissionais não são merecidas e que você provavelmente será desmascarado como uma fraude — seja percebida como prejudicial ao sucesso por aqueles que a vivenciam.
Acreditar que você não é digno de suas realizações e que alguém vai acabar descobrindo sua farsa adiciona naturalmente uma camada indesejada de pressão ao dia a dia de trabalho.
Mas, de acordo com descobertas recentes da pesquisadora Basima Tewfik, professora assistente de Estudos de Trabalho e Organização no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos EUA, os comportamentos que os ‘impostores’ exibem na tentativa de compensar suas inseguranças podem, na verdade, torná-los bons no que fazem.
Ao se inclinar para os sentimentos de inadequação — em vez de tentar resistir ou superá-los — e colocar um esforço extra na comunicação, os ‘impostores’ podem, na verdade, superar seus colegas não-impostores em termos de habilidades interpessoais.
O que isso significa, diz Tewfik, é que uma característica que a maioria das pessoas não gosta em si mesma pode, na verdade, as estar motivando a ter um desempenho melhor.
O ciclo do impostor
Segundo o International Journal of Behavioral Science, mais de 70% das pessoas são afetadas por pensamentos impostores no ambiente de trabalho em algum momento de suas vidas.
E embora os pontos de pressão específicos variem de acordo com as carreiras, os sintomas internos geralmente são os mesmos.
Os ‘impostores’ têm tendências perfeccionistas, abrigando uma necessidade secreta de serem os melhores no que fazem.
Quando são incapazes de atingir seus objetivos perfeccionistas, “os ‘impostores’ muitas vezes se sentem oprimidos, decepcionados e se generalizam como fracassados”.
Começa então um ciclo que faz com que os ‘impostores’ se proíbam de aceitar feedback positivo sobre seu trabalho.
Se a ansiedade em relação a um desempenho insatisfatório os leva a se preparar demais para uma apresentação, por exemplo, mesmo se a apresentação for bem-sucedida, eles vão sentir que gastaram muito esforço no processo — e realizar a tarefa deveria ter sido mais fácil.
Por outro lado, se procrastinam uma tarefa e ainda conseguem entregá-la a tempo, eles atribuem seu sucesso à sorte, e não à sua própria habilidade.
Em seu próximo relatório, o primeiro do tipo a identificar benefícios tangíveis que podem emergir de pensamentos impostores no ambiente de trabalho, Tewfik sugere que um dos principais definidores da síndrome do impostor é uma lacuna em como os indivíduos percebem sua própria competência em comparação com o quão competentes eles são na verdade.
Tewfik queria descobrir como essa lacuna de competência percebida pode impactar as carreiras dos ‘impostores’ — tanto em termos da qualidade de seu trabalho quanto do seu status social entre os colegas.
Ela começou trabalhando com supervisores de uma empresa de consultoria de investimentos, que observaram e avaliaram as habilidades interpessoais de seus funcionários — alguns dos quais estavam tendo pensamentos impostores — durante dois meses.
O que Tewfik descobriu foi que, apesar de suas inseguranças, os profissionais que tinham pensamentos impostores eram, na verdade, classificados como mais eficazes interpessoalmente do que seus pares não-impostores; os gestores os descreveram como mais cooperativos.
Na sequência, ela analisou um grupo de estudantes avançados de medicina, prestes a começar o estágio clínico.
Alguns deles foram primeiro induzidos a ter pensamentos impostores ao escrever sobre uma época em que os tenham vivenciado no passado — um processo que efetivamente produz as condições da síndrome do impostor, mesmo em um ambiente controlado, diz Tewfik.
Os estudantes foram então incumbidos de diagnosticar doenças em atores treinados para manifestar os sintomas e comportamentos de alguém com uma determinada condição.
Mais uma vez, Tewfik constatou que os estudantes ‘impostores’ recebiam avaliações mais altas dos pacientes por sua conduta.
“Eles eram mais empáticos, melhores ouvintes, faziam perguntas melhores”, diz ela, observando que os estudantes impostores também mantêm contato visual mais frequente, se inclinam mais para frente e confirmam melhor os sintomas descritos por seus pacientes.
Em um experimento final, Tewfik analisou um grupo de indivíduos se passando por candidatos a emprego durante uma pré-entrevista, um “bate-papo no café”, com um gerente de contratação. Se impressionassem o gerente e se mostrassem qualificados para o cargo, teriam a oportunidade de uma entrevista formal.
Como no teste anterior, os entrevistados induzidos a ter pensamentos impostores foram avaliados como mais efetivos interpessoalmente pelo gerente de contratação do que seus pares não-impostores — eles optaram por fazer perguntas mais envolventes e forneceram respostas mais atraentes.
E embora possam ter se sentido uma fraude, análises preliminares mostram que os entrevistados ‘impostores’ tiveram um desempenho semelhante ao dos colegas no quesito “competência” — eles não eram considerados menos qualificados para avançar para uma entrevista formal.
Da mesma forma, os estudantes de medicina ‘impostores’ do experimento anterior fizeram tantos diagnósticos corretos durante sua avaliação quanto os outros.
“Muitas pessoas meio que pintam [a síndrome do impostor] como algo que está impedindo você de avançar. Portanto, poderíamos esperar, por exemplo, que talvez você tivesse um desempenho ruim”, diz Tewfik.
“Na verdade, não há diferença significativa [em competência] entre aqueles que são induzidos a ter pensamentos impostores e aqueles que não”.
O que sua pesquisa sugere até agora é que essa lacuna de competência percebida — a ideia de que os impostores estão se fazendo passar por alguém mais capaz do que realmente são — pode não estar afetando negativamente a qualidade de seu trabalho no fim das contas.
E, se a insegurança os leva a colocar um esforço extra em suas conexões interpessoais, pode até mesmo ajudá-los a superar seus colegas não-impostores.
“Tudo isso junto me deixa muito animada”, diz ela.
“Pode haver esse lado positivo, e talvez devêssemos começar a pensar em como aproveitá-lo.”
Abraçando a insegurança
A síndrome do impostor é estudada há décadas, mas há muito pouca pesquisa sobre suas implicações para o sucesso.
Até Tewfik revelar suas novas descobertas, era amplamente suposto que a condição era debilitante, de acordo com Adam Grant, psicólogo organizacional e professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
“A pesquisa dela está abrindo novos caminhos ao destacar que pensamentos impostores podem ser uma fonte de combustível”, diz ele.
“Pode nos motivar a trabalhar mais para provar nosso valor e trabalhar de maneira mais inteligente para preencher lacunas em nossos conhecimentos e habilidades.”
Embora haja uma série de recomendações para ajudar os profissionais a tentar superar seus sentimentos de impostor, os especialistas acreditam que o objetivo real deveria ser revisar a suposição subjacente de que a síndrome do impostor é puramente prejudicial.
É verdade que algumas pessoas apresentam uma crença crônica de que são uma fraude, mas para a maioria de nós, isso se manifesta como dúvidas comuns sobre se estamos à altura dos desafios que enfrentamos, diz Grant.
E embora esse autoceticismo possa provocar estresse, medo ou diminuição da autoconfiança, a pesquisa de Tewfik “revela que essas dúvidas são normais e até saudáveis”.
“Em vez de nos deter, podem nos impulsionar para a frente”, ela acrescenta.
De acordo com Scott Galloway, empresário e professor de marketing na Universidade de Nova York, nos EUA, a melhor estratégia para os profissionais que desejam aproveitar esse novo potencial é passar pelo componente da emoção negativa e se inclinar ainda mais para os sentimentos impostores.
Focar na lacuna de competência percebida entre você e seus colegas — e colocar sua energia para preenchê-la — pode oferecer a vantagem que você está procurando.
“Naqueles momentos em que você se sente um impostor… você se dá conta de que ‘tem algo a provar’, então você não é complacente”, disse ele ao destacar o trabalho de Tewfik no podcast Pivot, que apresenta com Kara Swisher.
“Quer saber, este pode ser um momento de humildade confiante, em que posso reconhecer o quão pouco sei e ainda ter uma forte convicção na minha capacidade de aprender.”
BBC NEWS