O caso foi denunciado pelo dono do escritório e pela Comissão de Direitos Humanos da OAB na Delegacia de Crimes Raciais em Brasília
Um grupo de advogados de Brasília fez zombarias através do WhatsApp de um escritório que postou anúncio para contratação de estagiário afrodescendente. O caso foi denunciado pelo dono do escritório, o advogado Max Telesca e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)/seção DF (OAB-DF), Beethoven Andrade, na Delegacia de Crimes Raciais (Decrin), nessa segunda-feira (10/5). As informações são da repórter Manoela Alcântara, no Metrópoles.
De acordo com Telesca, houve uma tratativa com a delegada Ângela Maria dos Santos, titular da especializada, para que não fosse registrado um boletim de ocorrência, mas sim feita uma representação para ser entregue a ela e ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A denúncia também encaminhada pela seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), no sábado (8), ao Tribunal de Ética e Disciplina para apuração do episódio.
O presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-DF, Antonio Alberto do Vale Cerqueira, afirmou à reportagem do Metrópoles:
“Seguindo a política inclusiva da OAB-DF, [o tribunal] entende como intoleráveis atos de preconceito, ainda mais aqueles galgados no racismo estrutural, que vão contra os ideais inclusivos que devem nortear quaisquer políticas públicas”, disse.
“Uma vez comprovadas declarações preconceituosas e de cunho racista em grupos de advogados, praticadas por aqueles afetos à jurisdição do TED, elas certamente serão punidas de forma exemplar e em obediência à legislação pertinente”, concluiu.
Entenda o caso
Assim que o texto do escritório Telesca e Advogados Associados, com a chamada “Vaga de Estágio para Afrodescendente”, foi enviado, vários comentários racistas começaram a circular nos grupos. Veja o anúncio:
Um dos participantes, Yuri Gagarin, usou expressões como “racismo contra branco” e “vou chamar meu primo macaco para preencher a vaga” ao comentar a intenção do escritório em dar oportunidade para jovens estudantes negros. Em outro momento, um defensor chegou a postar a hashtag #forapreconceitobranco.
Um dos integrantes postou que “grande parte da população” estava sendo impedida de participar do processo. “Acho lindo o racismo contra branco”, completou.
Uma advogada loira, identificada como Lisbeth Bastos, ironizou: “Então posso mandar meu CV. Já fui muito discriminada por Deus ter me feito linda”. Yure Gagarin responde, então, com figurinha de integrantes do famoso “meme do caixão”, sugerindo que seriam os novos estagiários do escritório. Quem interage com ele durante o deboche é outro advogado da cidade, Renato Denis.
Veja alguns comentários abaixo:
O advogado Max Telesca comentou o caso ao Metrópoles:
“Foram falas revoltantes. As pessoas ainda não entenderam o racismo e o racismo estrutural. A nossa ideia é fazer uma ação inclusiva e afirmativa. Jamais pensei que algo tão sério fosse tratado com um nível tão baixo. Perderam a noção, ou melhor, acho que nunca tiveram”, disse.
Com informações do Metrópoles