Ter clareza e objetividade na comunicação traz harmonia para o ambiente profissional, mas requer uma prática constante
Ao contrário do que pode parecer, assertividade no trabalho não tem a ver com estar correto (a) ou não em relação a alguma questão ou prática. O termo, cada vez mais citado quando se fala de relações interpessoais, se relaciona a um tipo de postura comportamental das pessoas em situações cotidianas no ambiente profissional.
Ser assertivo (a) significa se comunicar – verbalmente ou não – de forma direta, expondo e defendendo seu ponto de vista sem brigar, ofender ou causar qualquer tipo de constrangimento para a outra pessoa.
Se posicionar de forma clara e transparente exige que algumas habilidades comportamentais – as chamadas soft skills – sejam desenvolvidas. “O autoconhecimento é fundamental, pois ter a percepção de si para poder se relacionar com o outro de maneira eficaz é fundamental neste processo”, afirma a psicóloga Livia Cordeiro Bacchi, consultora de RH e diretora da ABRH – Regional Centro-Oeste Paulista.
Segundo a psicóloga, também é necessário desenvolver a empatia para poder defender suas ideias sem desrespeitar o ponto de vista do outro, além de utilizar de maneira adequada a expressões verbais e não-verbais, uma vez que dizer uma coisa aparentando outra gera um ruído na comunicação.
“O profissional assertivo é aquele que consegue desenvolver a inteligência emocional, pois sabe controlar os seus sentimentos de forma a se comunicar com clareza, transmitindo sua mensagem com respeito e tranquilidade”, explica Livia Bacchi.
Como ter mais assertividade no trabalho
O comportamento assertivo é mais comum entre pessoas com autoestima e autoconfiança elevadas. A segurança proporcionada por estas características costuma trazer equilíbrio.
Contudo, como os níveis de autoestima e autoconfiança variam entre os profissionais, uma maneira de ter mais assertividade é seguir algumas dicas, como aponta a psicóloga:
1. Ouça o outro com atenção
Procure ouvir atentamente o outro para entendê-lo e, ao se posicionar, leve em consideração o ponto de vista dele. “Fazendo isto, ele saberá que você ouve, presta atenção ao que é importante para ele, e isto constrói a compreensão entre os dois lados no diálogo”, ensina Livia Bacchi.
2. Fale com clareza
Ao verbalizar, fale com clareza e prestando atenção no tom de voz e na comunicação não verbal. Esse é um detalhe importante. O que está sendo dito não pode contradizer a linguagem corporal.
Quando isso acontece o ouvinte automaticamente identifica que há algo errado e a mensagem se torna pouco confiável. Por isso é preciso trabalhar com a verdade e com convicção na hora de se comunicar.
3. Não esqueça que educação vem antes de tudo
Procure não interromper a fala dos outros, nem apontar o dedo. Evite também expressões imperativas, tom de voz elevado e o uso de ironia ou gestos que podem violar os direitos do outro.
“Prefira utilizar frases na primeira pessoa: ‘eu me sinto assim quando você age deste modo…’, assim, você está se responsabilizando e não apontando para o outro a culpa”, recomenda a psicóloga.
Livia Bacchi lembra que a assertividade não garante o fim de conflitos entre duas pessoas, mas quando há uma comunicação assertiva é mais fácil que os interlocutores identifiquem que há desacordo e tentem chegar a um consenso, ou, simplesmente, decidam manter a sua posição respeitando a do outro
A importância do exemplo da liderança
Não é raro que ambientes com poucas pessoas assertivas sejam mais agitados e estressantes, enquanto lugares com indivíduos mais equilibrados ao se comunicar sejam mais agradáveis e harmoniosos.
O papel das lideranças na criação destes ambientes é fundamental. “Um líder assertivo é capaz de influenciar de forma positiva a vida das pessoas. Quando um líder passa confiança para a sua equipe, ele consegue atrair seguidores e esses seguidores estarão dispostos a atingir os objetivos estabelecidos”, explica Livia Bacchi.
Por outro lado, líderes com comportamento inadequado, como gritar com os colaboradores, ofender, ou menosprezar os membros da equipe, afetam o clima organizacional, geralmente provocando descontentamento e, com isso, uma alta rotatividade na empresa.
A psicóloga explica que o líder hábil, sabe reconhecer as diferenças de cada membro do time e consegue ouvir o outro. Como consequência, se cerca de pessoas que irão retribuir com as mesmas atitudes. O resultado costuma ser um ambiente motivador no qual há respeito entre os colaboradores. “Em suma, a melhor forma de liderar é dando o bom exemplo”, conclui a psicóloga.
Pessoas com temperamento difícil são desafios
Um desafio mesmo para quem busca e pratica a assertividade no trabalho são as pessoas com temperamento naturalmente difícil, que são resistentes a tudo ou possuem posturas agressivas. Elas acabam se transformando em verdadeiros testes de calma e autocontrole.
Lívia Bacchi recomenda um posicionamento contra esse tipo de atitude. “É preciso saber se colocar com firmeza e demonstrar a insatisfação. Procure ser claro e explicar as razões trazendo exemplos que ilustram o problema e as possíveis soluções, colocando os limites necessários, sem desrespeito ao outro e ao mesmo tempo respeitando a si mesmo”, diz a psicóloga.
Mais uma vez o exemplo é a uma boa estratégia para, de uma forma sutil, educar uma pessoa difícil. O comportamento correto, quando transformado em padrão, é percebido e copiado e, assim, funciona como efeito didático.
As vantagens da assertividade no trabalho
Na opinião de Livia Bacchi, existem muitos benefícios em se adotar um comportamento assertivo no ambiente profissional, por exemplo, a redução de conflitos interpessoais, negociações melhor conduzidas, clientes satisfeitos com o atendimento e pessoas mais seguras, felizes e menos estressadas.
A psicóloga lembra, porém, que a atitude não pode ser esporádica. “A assertividade é uma escolha e precisa ser treinada e colocada em prática diariamente”, sentencia.
Consumidor Moderno