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Números indicam: juventude precisa de amparo dentro e fora do ensino superior 

Especialistas discorreram sobre a falta de jovens no ensino superior; a razão é unânime: faltam políticas públicas de acolhimento à juventude

Além de não apresentar uma evolução, a taxa de estudantes matriculados nas IES (instituições de ensino superior) também tem caído, destaca o diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato. Ele participou do painel Gerações perdidas: jovens fora do ensino superior – do Grande Encontro da Educação – juntamente de Cesar Callegari, presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada, e José Vicente, reitor e fundador da Universidade Zumbi dos Palmares. Os três enfatizaram a má condução do governo federal em relação às políticas públicas de acolhimento à juventude.

Rodrigo chama a atenção para a queda no número de jovens matriculados nas IES. De acordo com o diretor-executivo do Semesp, a única política em que há um investimento real é a ampliação das matrículas de cursos a distância. Dados apresentados por ele, no entanto, mostram que a adesão da modalidade ocorre por um público mais velho.

“Ao focar na educação a distância, deixamos o jovem fora do ensino superior. A faixa etária de EAD é de pessoas mais velhas. Boa parte dos jovens que saem do ensino médio não vão para o ensino superior. Já o EAD busca pessoas mais velhas, que não tiveram acesso ao ensino superior na faixa etária adequada”, analisa Rodrigo Capelato.

Os números do Instituto Semesp apresentados por Rodrigo durante o painel, mostram que a população de 18 a 24 anos – faixa etária apontada como adequada para dar início ao ensino superior -, tem diminuído ao longo dos anos. “O número de ingressantes diminuiu 6,1%, quase três vezes mais que a diminuição da própria população”, salienta.

Políticas públicas de acesso à educação superior

Rodrigo Capelato ressalta a importância de se pensar em políticas públicas que deem acesso para que as juventudes tenham a possibilidade de ingressar nas IES. “E acesso com qualidade, um ingresso horizontal que permita que aqueles que estão em piores condições de competir pelas melhores vagas consigam, pelo menos, competir de forma próxima aos que tiveram melhores condições.”

Cesar Callegari se une ao debate e acrescenta que, dentro da população que se forma no ensino médio e demanda ingresso ao ensino superior, os chamados “nem-nem” (jovens que não estudam e nem trabalham), possuem percepção. “Eles têm percepção, sensibilidade e conhecimento. Olham ao redor e uma das coisas que percebem é que muitos dos profissionais que fizeram um enorme esforço para entrar no ensino superior acabam, neste instante, estando fora do mercado ou ocupando posições altamente precarizadas que nada tem a ver com sua formação origianal”, argumenta.

Cesar enfatiza que os dois últimos anos de pandemia intensificaram problemas que já se faziam presentes no quadro do ensino médio brasileiro. “Basta lembrar um dado que frequentemente é trazido ao nosso conhecimento: dos jovens que concluem o ensino médio, apenas 10% têm os conhecimentos adequados em matemática e só 36% dominam o que é considerado fundamental em língua portuguesa. Isso é um desastre”, expõe. O presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada reforça que o cenário é percebido pelos jovens, que por sua vez, “têm uma visão clara de que não será o curso superior que irá remediar os déficits educacionais que eles acumularam”, completa.

Efeito dominó

Em um recorte dos últimos quatro anos, Cesar lista diferentes aspectos que contribuíram para a atual situação do cenário educacional brasileiro, como a pandemia e a atuação do governo federal. “Nós tivemos a incúria do governo federal em relação à educação. Nós tivemos, no meu modo de entender, uma das piores expressões de irresponsabilidade sobre as tarefas que o governo federal tem que cumprir em relação à educação em todos os níveis”, critica.

“Não à toa, o Ministério da Educação durante esses últimos anos tem ficado nas páginas policiais e não nas páginas educacionais”, expõe. “Passados esses quatro anos, a reforma do ensino médio tem sido uma coleção de frustrações, especialmente para o jovem. Prometeram que os jovens brasileiros teriam opções para escolha. Onde estão essas opções?”, questiona.

José Vicente, reitor e fundador da Universidade Zumbi dos Palmares, frisa que a meta traçada pelo PNE (Plano Nacional de Educação) que visa chegar à taxa de 30% dos jovens no ensino superior até 2024 não será alcançada devido ao percentual que temos hoje. “Estamos patinando há 10 anos com os mesmos 9%, 10%”, salienta.

O reitor aponta o histórico do Ministério da Educação como um dos fatores que levaram a essa incapacidade. “Bastaria a gente puxar pela memória para verificar que, nos últimos 10 anos, na média, os nossos ministros da Educação permaneceram um ano no cargo. Alguns deles sequer permaneceram mais do que três meses, outros nem assumiram e o último – segundo as informações, têm tido problemas para resolver com a polícia”, analisa. José Vicente evidencia a necessidade de olhar para a educação e seus investimentos como prioridade.

“Deve e precisa interessar para a nação e sociedade como um recurso humano que eu coloque no primeiro dia dentro do banco escolar da universidade e que ele termine essa formação no último dia”, completa

Revista ensino superior

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