O que levar em consideração ao começar a carreira trabalhando nos negócios da família, entendendo o momento e os desafios.
Em famílias empresárias, existe sempre uma questão no ar – algumas vezes, amplamente conversada; outras vezes, temas quase inquestionáveis, seja para o sim, seja para o não. Devo começar minha carreira trabalhando nos negócios da minha família?
Aqui vou assumir uma posição, com minha opinião pessoal, depois de ter vivenciado muitas e muitas vezes o debate, a decisão, o caminho e os desdobramentos dessas escolhas. Eu acredito, sim, no caminho de ter um estágio ou participação no programa de trainee da empresa familiar. Proporcionar essa experiência vai trazer uma série de ganhos que vou discorrer neste artigo.
Primeiro, o jovem irá vivenciar, de perto, como os valores da sua família e os valores dos negócios se conectam, em cada mensagem, em cada decisão. Em cada símbolo da cultura, ele poderá ver refletido o que foi construído por sua família ao longo das gerações.
Outro ponto é que “de dentro” é possível entender melhor a história, os personagens que construíram o percurso que levou o negócio a se estabelecer. O jovem poderá construir sua própria visão do que é o negócio sob a sua perspectiva.
Um ponto que exige um pouco mais de preparo e maturidade é também conseguir observar e entender a dinâmica política que permeia cada negócio, compreender o papel de cada liderança.
Não existem grandes impactos nos gestores de ter um estagiário “futuro acionista” pela baixa complexidade das atividades que este irá exercer.Considero até que em alguns casos, quando o negócio é mais complexo, com Unidades de Negócio e muitas áreas (por vezes espalhadas em várias localidades dentro e fora do país), tal estágio pode ter um caráter mais customizado, considerando essa passagem como uma grande oportunidade de aprendizagem e visão do ecossistema de uma empresa de controle familiar.
É importante ter regras claras desde o início. Carga horária, flexibilidade ou não nos horários e compromissos, remuneração, entregas esperadas durante esse período, tudo deve estar alinhado entre as partes. Se possível, definir a figura de um mentor (familiar ou não) pode ser profundamente proveitoso para ajudar esse jovem a ter uma melhor compreensão e um ponto de referência de como deve proceder, o que observar e as razões de cada decisão.
Enfim, acredito que essa passagem irá proporcionar um overview rico e possibilitar um vínculo emocional forte, uma conexão que o jovem irá levar para a vida.
Devo deixar aqui claro que, na minha visão, essa experiência deve ter dia para começar e para acabar. O caminho mais interessante não é ser efetivado logo na sequência, mas, sim, ter uma experiência externa ao negócio familiar. É isso o que vou explorar com vocês na próxima edição deste artigo com dois capítulos.
Flávia Camanho Camparini é conselheira, mentora e coach. Especialista em Desenvolvimento Humano e Governança Familiar, é também fundadora da Flux Institute e professora convidada do IBGC para programas de Governança e Next G.